Para estruturar estes negócios de impactos sociais, várias pesquisas já foram desenvolvidas. A apuração da Pipe Social de 2017, por exemplo, mostra que, dentre os 579 negócios mapeados, 70% das organizações já estão formalizadas e 40% do total tem menos de 3 anos de fundação. Sobre as questões de gênero, 58% tem como seus fundadores apenas homens e 20% apenas mulheres, o restante é misto. A pesquisa ainda mostra uma concentração na região sudeste com 63% e na soma da região norte e nordeste somente 11%, expondo, ainda, a disparidade das necessidades versus os projetos e negócios de impacto social. Como área de impacto social, ou seja, temas nas quais os empreendedores sociais estão trabalhando, fica com 38% o tema da educação, seguido de 23% tecnologias verdes, 12% cidadania, 10% saúde, 9% finanças sociais entre outros. Com isso, é possível observar como prioridade o que o nosso país realmente está precisando. Para se ter uma ideia, 35% dos pesquisados ainda não faturou, 31% faturou no último ano até R$ 100 mil reais e apenas 7% faturou acima de R$ 2,1 milhões, mostrando que o movimento ainda está no começo, se comparado às empresas tradicionais ou ao mercado global.
Como observado, o movimento está crescendo, porém, precisa de mais pessoas, recursos, pesquisas e educação sobre o tema. Muitas vezes buscamos empreender, ter um propósito, mas não cuidamos do nosso quarteirão e nem mesmo do vizinho. Este empreendedor social precisa começar, primeiramente, com o que tem de mais próximo: ele mesmo. Certamente o autoconhecimento é fundamental até para acharmos qual é o nosso propósito e qual o problema do mundo queremos resolver, talvez este seja o passo inicial para o empreendedorismo social. Para aqueles que estão começando com este tema, coloquei aqui sete passos para refletirem antes de criar a sua organização de impacto social.
1. Problema do mundo
É muito importante que o empreendedor social entenda qual é o problema do mundo que ele tentará resolver, transformar, modificar ou mobilizar pessoas. Para isso é necessário muito estudo, pesquisa para entender as causas e os efeitos que este problema possui e, com isso, definir o ponto principal de mudança. Sendo realista e com dados quantitativos.
2. Causa
Com o problema definido, é agora a hora da construção da causa para que outras pessoas se engajem e que faça sentido para possíveis compradores e doadores do tema. A causa terá que ser algo compreensível para todos os públicos e será o grande chamariz da organização.
3. Público-alvo
Um público principal deverá ser escolhido. E mais do que escolhido, muito bem pesquisado, nos seus mínimos detalhes. Seja ele o público beneficiário ou o público indireto que também será trabalhado pela organização. A mudança ou transformação neste público pode ser a principal causa da organização.
4. Lucrativo ou sem fins de lucro
A organização que o empreendedor social está montando poderá ser lucrativa ou não. Se for lucrativa poderá ser uma empresa de impacto social que divide os lucros entre os sócios e acionistas ou ser uma empresa social que não divide os lucros e só os reinveste na própria organização. Ou ainda poderá ser uma organização sem fins de lucro, mais conhecida no Brasil como ONG ou Fundação. Ou ainda, uma cooperativa com pessoas de baixa renda cujos lucros serão divididos entre os cooperados.
5. Modelo de negócio
Mesmo as organizações sem fins de lucros precisam desenvolver um modelo de negócios que literalmente pague as contas. Sejam elas dos custos fixos ou das despesas ou ainda recursos para o projeto final que beneficie o público-alvo. Este modelo de negócio para as empresas sociais é necessário ter uma rentabilidade e boa alocação dos recursos. Além, óbvio, de ter muito bem desenvolvido como funcionará a organização para chegar ao seu objetivo final.
6. Engajamento e comunicação
O engajamento e comunicação com todos os públicos envolvidos é fundamental, seja ele o público interno (funcionários), o público atendido, o governo, a mídia, outras organizações sociais, os investidores etc. Muitas organizações só conseguiram o sucesso graças ao engajamento de todos pela causa.
7. Seja feliz
Se você “recebeu o chamado” para esta empreitada precisa entender que não é um peso e sim uma oportunidade para ter um real sentido para a sua existência neste planeta. Portanto, seja feliz com esta nova caminhada que, com certeza, será muito mais árdua do que os caminhos tradicionais. Porém, tenha certeza de que você deixará um legado para as próximas gerações. Muhammad Yunus coloca para que você faça tudo com felicidade!
Assim, escolhemos se queremos criar e/ou administrar uma ONG, fundação, um negócio social, de impacto social ou uma cooperativa. Organismos jurídicos que serão instrumentos para sua missão organizacional e propósito pessoal de vida. Ao invés de ficar só reclamando, vamos sair da inércia e transformar a realidade?
*Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); fundador e consultor da iSetor; idealizador e diretor da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida.
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