O ambiente de "festas" dos negócios de impacto social
*Marcus Nakagawa
Sabe quando você é convidado para uma festa ou ficou sabendo de uma festa e quer ir, mas não sabe muito bem quem vai participar, que roupa usar, o que levar? Ou ainda, sabe quando você começa a estudar uma área, talvez esteja no momento de escolher uma profissão ou fazendo o vestibular ou ainda você quer mudar de área, pois não aguenta mais fazer sempre a mesma coisa com as mesmas pessoas e empresas? Então, isso é o estudo de ecossistemas de negócios, alguns também chamam de análise do microambiente interno e externo à empresa. Ou seja, é onde o ambiente da festa está acontecendo!
Sempre me fazem esta pergunta, mas Naka como é que faz para trabalhar nesta área, como viro um empreendedor social, como faço uma empresa de impacto social ou uma organização do terceiro setor? E a primeira coisa que indico é conhecer o ecossistema, buscar empresas de impacto social na internet, buscar vídeos de empreendedores sociais falando sobre os seus negócios, fazer voluntariado em uma ONG ou buscar um amigo que já montou um projeto de impacto.
Como você quer ir à “festa”, se nem sabe como ela funciona, se é formal ou informal, se precisa levar salgadinhos ou refrigerantes, se precisa de convite ou se precisa ajudar a fazê-la...
Vai que você não gosta de sertanejo, hip-hop ou descobre que só vai tocar música eletrônica? Já adianto que o ‘ambiente de negócios sociais’ ou de ‘impacto social’ não é uma festa, é só uma analogia que estou fazendo para o ambiente que você vai participar. Entendeu, né?
No caso dos negócios de impacto social, a Força Tarefa de Finanças Sociais, grupo que tem na sua diretoria membros do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e do Sitawi - Finanças do bem e seus parceiros, mapearam o ecossistema numa pesquisa realizada pela Deloitte. Neste sistema colocaram como as partes: de um lado as organizações / indivíduos que ofertam o capital para o negócio de impacto iniciar ou potencializar; aquelas organizações que demandam o capital e são as executoras dos processos de impacto social e do outro as organizações que intermediam o processo de impacto, sejam elas oferecendo serviços de avaliação de impacto, recursos financeiros, conhecimento entre outros.
Neste documento denominado “Pesquisa de Intermediários do Ecossistema de Finanças Sociais e Negócios de Impacto”, os autores deixam bem claro os diferentes públicos existentes e os mecanismos de fomento e alocação de recursos, como, por exemplo, aqueles que vem por meio da filantropia, crowdfunding, microcrédito, fundos sociais, entre outros. Esta é a música que toca neste ambiente: as mais variadas, inovadoras e ainda em desenvolvimento.
As organizações que ofertam capital, que investem ou doam, podem ser: o governo, organismos nacionais de fomento, organismos multilaterais de crédito, pessoas jurídicas (empresas), instituições de finanças comunitárias, fundações, associações e pessoas físicas. Ou seja, diversas formas de se buscar dinheiro para iniciar, potencializar ou crescer o seu negócio de impacto social.
As organizações que recebem o dinheiro arregaçam as mangas para fazer uma melhoria social e ambiental de uma maneira sustentável financeiramente também são: organizações da sociedade civil com geração de receita, organizações da sociedade civil com negócio social, cooperativas, negócios com missão socioambiental com restrição na distribuição de dividendo e negócios com missão socioambiental sem restrição na distribuição de dividendos.
Um monte de tipos de organização neste ambiente, não? E ainda os de negócios sociais, negócios com missão socioambiental com restrição na distribuição de dividendo, ou seja, aqueles que não dividem o lucro com os acionistas, pois reinvestem 100% do seu lucro no negócio.
Mas afinal, no Brasil como estão estes negócios de impacto social? Como eles têm atuado? Em uma matéria da Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, que tive a honra de dar alguns depoimentos, foi publicado em primeira mão um estudo inédito realizado pela ONU em parceria com o Sebrae denominada “Gestão de Conhecimento no Ecossitema de Negócios de Impacto no Brasil” em 2018. Foram estudados 837 negócios das cinco regiões e também analisado todos os 21 estudos já publicados no país.
O mais interessante, é que a “festa” está só começando, pois metade das empresas deste ambiente estão nas etapas iniciais que chamamos de ideação ou validação, ou seja, ainda sendo pensadas ou testadas. E 15 % estão escalando, ou seja, crescendo. Como nas pesquisas anteriores, esta mostrou que mais da metade dos negócios encontram-se no Sudeste (55,4%) e que 70% ficam na área de serviços, seguidos por comércio (13%), indústria (10%) e agropecuária (7%). Apenas 11,9% têm mais de 5 anos de existência e 22,7% têm entre 1 e 2 anos. O maior percentual é menos de um ano, com 34,8%. A música só está começando neste ambiente. E metade das empresas (52,9%) têm de 2 a 5 funcionários. Para quem quer conhecer mais sobre este ambiente vale a pena buscar a pesquisa.
Com isso consigo abrir meu negócio de impacto social ou já posso começar a pensar? Talvez, mas primeiramente é superimportante você se conhecer, ver suas competências e ver o que precisa melhorar ou potencializar. Depois, outro passo importante, é ver qual problema do mundo você quer resolver, pois ainda não dá para resolver todos de uma vez. Tem um filme de vários super-heróis ao mesmo tempo em que o suposto vilão estala os dedos e tudo parece que se resolve. Ainda terá a segunda parte do filme para saber o que deu. Será que a festa acabou ou está só começando? Uma coisa tenho certeza: problemas do mundo temos um bocado e precisaremos de todas as pessoas que acreditam que estão aqui para deixar um verdadeiro legado para esta festa!
*Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); fundador e consultor da iSetor; idealizador e diretor da Abraps; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. |